O Monte Taranaki, localizado na Ilha Norte da Nova Zelândia, foi recentemente reconhecido legalmente como uma pessoa, adquirindo os mesmos direitos e responsabilidades de um ser humano. Essa decisão resulta de um acordo entre o governo neozelandês e as tribos indígenas Māori locais, que há muito consideram o Monte Taranaki um ancestral sagrado.
Reconhecimento Legal e Significado Cultural
O reconhecimento legal do Monte Taranaki, agora oficialmente chamado de Taranaki Maunga, reflete a profunda conexão espiritual e cultural que as tribos Māori mantêm com a montanha. Para os Māori, Taranaki Maunga é mais do que uma formação geológica; é um antepassado venerado, fonte de sustento físico, cultural e espiritual, além de ser considerado um local de descanso final para muitos.
Com essa nova designação, Taranaki Maunga possui todos os direitos, poderes, deveres e responsabilidades de uma pessoa jurídica. Isso significa que qualquer dano ou desrespeito à montanha será tratado legalmente como uma ofensa contra uma entidade viva. Uma nova entidade será formada para atuar como “a face e a voz” da montanha, composta por quatro membros das tribos Māori locais (iwi) e quatro indicados pelo ministro da conservação da Nova Zelândia.
Restituição
A decisão também reconhece as injustiças históricas sofridas pelos Māori em relação ao Monte Taranaki. Após a colonização europeia, especialmente após a chegada do explorador britânico Capitão James Cook no século XVIII, a montanha foi confiscada das tribos locais. Em 1865, terras ao redor do Monte Taranaki foram tomadas como punição aos Māori que resistiram à colonização. Durante décadas, práticas tradicionais associadas à montanha foram proibidas, enquanto o turismo e outras atividades eram promovidas sem a participação ou consentimento das tribos locais.
Somente a partir dos movimentos de protesto Māori nas décadas de 1970 e 1980 é que a língua, cultura e direitos indígenas começaram a ser reconhecidos legalmente na Nova Zelândia. A restituição incluiu acordos significativos, como o firmado em 2023 com as oito tribos de Taranaki, que culminou no recente reconhecimento legal da montanha.
Precedentes e Implicações Futuras
O Monte Taranaki não é a primeira entidade natural na Nova Zelândia a receber personalidade jurídica. Anteriormente, a floresta nativa de Te Urewera e o rio Whanganui também foram reconhecidos como pessoas sob a lei neozelandesa. Esses precedentes refletem uma mudança significativa na forma como o país aborda a conservação ambiental e os direitos indígenas, reconhecendo a interconexão entre natureza e cultura.
O reconhecimento legal de Taranaki Maunga oferece proteção adicional contra atividades que possam degradar seu ambiente, garantindo que as decisões sobre seu uso e conservação sejam tomadas com a participação ativa das tribos Māori locais. Embora a montanha continue sendo um destino público acessível para turismo, caminhadas e esportes de neve, as tribos agora têm maior autoridade para garantir que essas atividades sejam conduzidas de maneira respeitosa e sustentável.
Reflexões Finais
A atribuição de personalidade jurídica ao Monte Taranaki representa um marco na reconciliação entre o governo da Nova Zelândia e as comunidades indígenas Māori. Reconhece não apenas a importância cultural e espiritual da montanha, mas também a necessidade de proteger e preservar ambientes naturais sagrados para as gerações futuras. Este movimento destaca uma abordagem inovadora na legislação ambiental, onde a natureza é vista como uma entidade viva, digna de direitos e proteções equivalentes aos de seres humanos.