Pilotos de F1 podem ser banidos por criticar a FIA

 

Presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem

Pilotos de Fórmula 1 poderão ser suspensos se forem considerados culpados de criticar ou usar linguagem ofensiva contra a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), conforme novas regras estabelecidas para a temporada de 2025.

As alterações no código esportivo da FIA introduzem um sistema de penalidades progressivas, culminando em uma suspensão de um mês e perda de pontos no campeonato, caso os pilotos infrinjam as regras três vezes. A medida é vista como uma tentativa da FIA de conter críticas públicas, mas tem gerado reações negativas dentro e fora do paddock.

De acordo com as novas diretrizes, uma primeira infração resultará em uma multa de 40 mil euros (aproximadamente R$ 230 mil); uma segunda acarretará multa de 80 mil euros (R$ 460 mil) e uma suspensão condicional de um mês; e a terceira culminará em uma multa de 120 mil euros (R$ 690 mil) e suspensão efetiva de um mês.

As novas penalidades valem para todos os portadores de licenças da FIA, incluindo pilotos de categorias como Fórmula 1, Mundial de Rali, Mundial de Endurance e Fórmula E, além de chefes de equipe.

Reação no paddock e críticas à FIA

Max Verstapen, piloto da Redbull

Embora a Associação de Pilotos de Grandes Prêmios (GPDA) tenha se recusado a comentar as mudanças, fontes próximas aos pilotos criticaram duramente as novas regras. Um assessor de um dos principais pilotos afirmou: “Essa decisão é ridícula. Mohammed Ben Sulayem está agindo como um ditador”.

Fontes ligadas à FIA também apontaram que a mudança foi implementada por meio de uma votação eletrônica surpresa, sem consulta prévia a stakeholders, à GPDA ou mesmo à comissão de pilotos da entidade.

“Não é correto agir dessa forma”, disse uma fonte interna. “Essa questão poderia ter sido debatida na próxima reunião do Conselho Mundial de Automobilismo (WMSC).”

As novas regras chegam em um momento delicado para a FIA, cuja liderança tem enfrentado críticas constantes. Recentemente, alterações no estatuto da entidade, aprovadas em dezembro, foram apontadas por opositores como uma tentativa de reduzir a transparência e a responsabilização interna.

George Russell, piloto da Mercedes e diretor da GPDA, afirmou no final do ano passado que ele e seus colegas estavam “cansados” da forma como a FIA vem sendo conduzida.

George Russel, presidente da associação dos pilotos

Definição de infrações preocupa pilotos

Dois trechos específicos do código esportivo estão sendo amplamente debatidos no paddock por sua subjetividade. Um deles define infração como “o uso de linguagem ofensiva, gestos ou sinais considerados rudes, abusivos ou inapropriados”, além de ações como agressões físicas e incitação a tais comportamentos.

O outro trecho proíbe “palavras, atos ou escritos que causem prejuízo moral ou reputacional à FIA, seus membros ou oficiais”.

Essa definição ampla preocupa os pilotos, pois abre margem para que qualquer crítica pública ou comentário negativo seja enquadrado como infração, mesmo que não seja intencionalmente ofensivo.

Em novembro, a GPDA enviou uma carta aberta à FIA pedindo que os pilotos fossem tratados como “adultos” e criticando a aplicação de multas. O documento ainda solicitava transparência sobre como o dinheiro das penalidades seria utilizado, mas a associação nunca recebeu uma resposta.

O pedido foi motivado pela polêmica envolvendo Max Verstappen, piloto da Red Bull, que foi condenado a realizar trabalho comunitário após usar palavrões em uma coletiva oficial no Grande Prêmio de Singapura. Verstappen, na ocasião, participou de um evento de desenvolvimento do esporte em Ruanda, ao lado de Mohammed Ben Sulayem.

FIA defende novas regras

Um porta-voz da FIA defendeu as mudanças, alegando que o objetivo é “melhorar a transparência e a consistência nas decisões”. Segundo ele, as regras foram elaboradas para fornecer “orientações claras” aos comissários e garantir que as penalidades sejam aplicadas de maneira uniforme.

Ele também argumentou que outras entidades esportivas possuem regras semelhantes para proteger a integridade de suas competições.

“Os comissários têm autoridade para decidir qual penalidade aplicar, considerando circunstâncias atenuantes ou agravantes, além do contexto do evento”, afirmou o porta-voz.

Ainda assim, a FIA não respondeu aos questionamentos sobre o método usado para aprovar as mudanças, que têm gerado controvérsia no meio esportivo.

Insatisfação crescente no paddock

Ayao Komatsu, chefe da equipe Haas, resumiu a insatisfação generalizada ao ser questionado recentemente sobre a situação da FIA: “Não escrevam que ‘Ayao disse que a FIA está uma bagunça’, mas é isso que todos pensam. Não está bom, de verdade.”

Ayao Komatsu, chefe de equipe da Haas

As novas regras da FIA, vistas como uma tentativa de silenciar críticas e limitar a liberdade de expressão, devem gerar ainda mais tensão entre os pilotos, equipes e a entidade máxima do automobilismo. A Fórmula 1, um esporte conhecido por sua paixão e competitividade, agora enfrenta um novo desafio: equilibrar a disciplina com a liberdade de seus protagonistas.

Enquanto a temporada de 2025 se aproxima, o clima no paddock promete ser mais intenso do que nunca, com pilotos e equipes avaliando os impactos das mudanças na gestão da FIA.

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