Fontes: Techcrunch e Global Witness
Em um estudo realizado pela organização Global Witness, descobriu-se que os algoritmos de recomendação utilizados pelas gigantes das redes sociais TikTok e X exibem um viés político substancialmente inclinado para a extrema-direita na Alemanha, a apenas dias das eleições federais que ocorrerão no próximo domingo. A pesquisa revelou que, ao analisar o conteúdo exibido para novos usuários, os algoritmos dessas plataformas tendem a amplificar conteúdos favoráveis ao partido AfD (Alternativa para a Alemanha), de extrema-direita.
A pesquisa e seus resultados
A análise feita pela Global Witness foi focada nas feeds recomendadas aos usuários, conhecidas como “For You” tanto no TikTok quanto no X. Os testes envolveram a criação de contas fictícias que seguiam os quatro maiores partidos políticos da Alemanha, incluindo o AfD, para verificar o tipo de conteúdo exibido aos usuários não-partidários.
Os resultados foram alarmantes: no TikTok, impressionantes 78% do conteúdo político recomendado aos perfis de teste era favorável ao AfD, um número significativamente superior ao apoio real que o partido recebe nas pesquisas atuais, que gira em torno de 20% dos eleitores alemães. No X, esse índice foi de 64%. Ambos os resultados indicam um viés claro em favor de conteúdos de direita, especialmente com a proximidade do pleito.
Além disso, quando a análise se voltou para o viés político geral (se de direita ou esquerda), os dados mostraram que usuários não-partidários estavam sendo expostos a conteúdo de direita mais de duas vezes mais do que a conteúdo de esquerda, uma disparidade preocupante para o contexto político do país.
O AfD e sua agenda radical
O AfD (Alternativa para a Alemanha) é um partido político que tem ganhado notoriedade nos últimos anos, especialmente por suas posições de extrema-direita. Conhecido por suas ideias nacionalistas, anti-imigração e eurocéticas, o partido tem sido amplamente criticado por seu discurso polarizador e, em muitos casos, xenofóbico. Seu crescimento é visto com preocupação por muitos analistas, pois promove uma agenda que, em muitos aspectos, enfraquece os valores democráticos e de inclusão da sociedade alemã. A adesão a políticas extremistas e a retórica agressiva contra minorias, como imigrantes e refugiados, têm gerado divisões na sociedade e alimentado um clima de intolerância. O apoio crescente ao AfD, impulsionado por algumas plataformas de mídia social, levanta questões sérias sobre os perigos de uma política de radicalização que ameaça os pilares da democracia e os direitos humanos fundamentais.
Comparação com outras plataformas
A pesquisa também incluiu o Instagram, da Meta, que, embora tenha mostrado um viés menos pronunciado em comparação com o TikTok e o X, também exibiu uma tendência a mostrar mais conteúdo de direita, com 59% do conteúdo político sendo favorável à direita.
Global Witness, ao realizar os testes, seguiu um protocolo rigoroso, onde as contas fictícias interagiam de forma genuína com os conteúdos exibidos, clicando e visualizando vídeos e postagens de líderes políticos, com a intenção de simular um comportamento de usuário comum.
O impacto do viés algorítmico nas eleições do Brasil em 2026
O viés político nas redes sociais, como o identificado nas plataformas TikTok e X na Alemanha, tem o potencial de gerar consequências semelhantes nas eleições do Brasil em 2026. No contexto brasileiro, onde as redes sociais já desempenham um papel central na mobilização política e na formação de opinião pública, o viés algorítmico pode afetar de maneira decisiva o equilíbrio político, favorecendo partidos e candidatos alinhados com determinadas ideologias.
Impacto na democracia e na formação de opinião
Assim como na Alemanha, o Brasil experimenta uma crescente fragmentação política. O viés nas redes sociais pode contribuir para a disseminação de desinformação e fake news, algo já observado em eleições passadas no país. O potencial de manipulação algorítmica nas plataformas de redes sociais torna-se uma ferramenta poderosa para grupos ou partidos que buscam influenciar a opinião pública de maneira desonesta, alterando a percepção de eleitores em relação aos candidatos, suas propostas ou até mesmo à integridade do próprio processo eleitoral.
Interferência externa
O viés nas redes sociais pode também ser exacerbado por influências externas, como campanhas de desinformação financiadas por agentes estrangeiros ou movimentos políticos externos, que têm se mostrado cada vez mais presentes nas eleições globais. No Brasil, onde as redes sociais são uma ferramenta crucial de comunicação, esse tipo de interferência pode dividir ainda mais a população, criando um ambiente de desconfiança em relação à legitimidade dos resultados eleitorais.
O papel da regulação
Em resposta a esses desafios, é urgente que o Brasil, assim como a União Europeia está fazendo com o Digital Services Act, desenvolva e implemente regulamentações que garantam mais transparência sobre o funcionamento dos algoritmos e a imparcialidade das plataformas digitais. Caso contrário, o Brasil corre o risco de ver uma eleição cada vez mais influenciada por algoritmos que favorecem determinados candidatos e ideologias, desestabilizando o jogo político e comprometendo a integridade da democracia.
Em um cenário de maior regulação, os partidos políticos, especialmente aqueles mais moderados, terão de adaptar suas estratégias de campanha para competir de forma mais justa nas plataformas digitais. No entanto, sem ações concretas, o Brasil corre o risco de ver uma eleição cada vez mais influenciada por algoritmos que favorecem determinados candidatos e ideologias, desestabilizando o jogo político e comprometendo a integridade da democracia.
A falta de transparência dos algoritmos
Um dos maiores desafios levantados pela pesquisa é a falta de transparência por parte das plataformas em relação ao funcionamento de seus algoritmos. Ellen Judson, líder da pesquisa, destacou que as plataformas não explicam como os sinais dos usuários (como cliques, tempo de visualização, entre outros) são ponderados pelos algoritmos, o que torna difícil entender se há de fato uma manipulação deliberada ou se é um efeito colateral não intencional dos sistemas que priorizam o engajamento dos usuários.
Segundo Judson, esse tipo de viés é uma consequência do modelo de negócios das redes sociais, que prioriza maximizar o engajamento e, por conseguinte, a exposição de conteúdos sensacionalistas ou polarizadores, que frequentemente têm uma tonalidade mais extrema.
Repercussões políticas e sociais
Esses achados têm implicações diretas no processo eleitoral da Alemanha, que se aproxima rapidamente. O viés nas redes sociais pode afetar a formação da opinião pública, principalmente em uma eleição altamente competitiva. A promoção de conteúdos de extrema-direita pode alterar a percepção dos eleitores e até influenciar o resultado da eleição, algo que preocupa analistas políticos e defensores da democracia.
Global Witness também compartilhou suas descobertas com autoridades da União Europeia, que possuem mecanismos como o Digital Services Act (DSA) para investigar e regulamentar as plataformas digitais. No entanto, a eficácia dessas regulamentações ainda é questionada, dado que o artigo que permitiria o acesso mais amplo aos dados internos das plataformas, necessário para uma fiscalização eficaz, ainda não entrou em vigor.
O papel da União Europeia e a necessidade de mais transparência
A Comissão Europeia está atenta ao caso e abriu investigações sobre as alegações de viés político nas plataformas envolvidas. A possibilidade de uma ação mais rigorosa por parte da União Europeia é real, especialmente considerando a crescente pressão para garantir que as plataformas não manipulem o conteúdo político de maneira a prejudicar processos democráticos. As sanções previstas no DSA incluem multas pesadas, que podem chegar a até 6% do faturamento global das plataformas infratoras.
No entanto, Judson enfatiza que as mudanças precisam ser rápidas, já que as eleições estão à porta, e o impacto do viés pode ser difícil de reverter uma vez que os resultados eleitorais se consolidem.
Desafios no combate ao viés algorítmico
Embora a pesquisa tenha apontado um viés claro nas plataformas testadas, a complexidade em entender o funcionamento dos algoritmos e a resistência das próprias redes sociais em divulgar seus métodos dificultam a luta contra esse tipo de manipulação. A falta de informações precisas sobre como os algoritmos funcionam impede uma análise mais aprofundada e a possibilidade de intervenção eficaz.
Diante desse cenário, a sociedade civil e as autoridades da UE aguardam ansiosamente a implementação de mecanismos de fiscalização mais robustos e a possível modificação dos algoritmos para garantir uma maior imparcialidade e transparência nas plataformas digitais.
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